Falta de visibilidade do esporte feminino
“Em jogo com sete gols, EUA faz 5 a 2 no Japão e se consagra campeão da Copa do Mundo feminina”. “Em jogo sem gols, Chile bate Argentina nos pênaltis e é campeão da Copa América”. Duas grandes manchetes para o cenário esportivo, porém com uma diferença: a visibilidade. A segunda é notícia da capa do jornal e razão de grandes matérias na televisão, enquanto a primeira é apenas um “boxe” da área de esportes, citada em poucos programas que mostram apenas os gols do jogo.
“No país do futebol”, poucas notícias foram vistas sobre o desempenho brasileiro no último mundial feminino. Marta, camisa 10 da seleção brasileira e ganhadora do prêmio bola de ouro cinco vezes consecutivas, chegou ao seu 15º gol em mundiais, tornando-se a maior artilheira de toda a competição, igualando-se ao Ronaldo e ficando a um gol de alcançar Miroslav Klose, 16 gols, maior goleador masculino. Formiga também marcou um gol e, aos 37 anos, se tornou a jogadora mais velha a marcar em um mundial, porém poucos brasileiros sabem disso.
Mas por que toda essa diferença? Por que as notícias dos campeonatos femininos não podem ser retratadas com o mesmo destaque dos masculinos?
Temos dois pontos principais para responder a essas perguntas. O primeiro está relacionado à grande mídia, que abre espaço para divulgar o que mais rende, tanto para ela, como para grandes empresas.
O professor e doutor em Educação Física, Luiz Seabra Junior, em entrevista exclusiva ao Conexão Cotuca, afirmou ser consenso que o mundo esportivo gira em torno da mídia, do dinheiro, do marketing, do mercado, valendo-se da lei da oferta e da procura. “Assim, para muitos, a falta de mercado, a pouca visibilidade, o pouco interesse dos ‘consumidores esportivos’ dos ‘consumidores de futebol’ pelo futebol feminino, não conferindo-lhe a visibilidade esperada ou necessária. Consequentemente, isso enfraquece as possibilidades de investimento e apoio, sendo negligenciado até mesmo pela entidade máxima da modalidade, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela própria FIFA (Federação Internacional de Futebol)”.
O segundo ponto que contribui para esse cenário é o machismo, característico da sociedade em que vivemos, mesmo que disfarçadamente. Criou-se a cultura de que a mulher tem que ser frágil, bem arrumada e bonita, não podendo suar e praticar atividades físicas. “Lugar de mulher é na cozinha”, dizem os preconceituosos, reforçando as dificuldades que muitas mulheres enfrentam para realizar atividades distantes do serviço doméstico. Isso permite compreender alguns dos fatores que levam às dificuldades de divulgação de mulheres praticando esportes como basquete, futebol, rugby, entre outros. “Ao longo do tempo, o espaço e o papel da mulher na sociedade ficou reservado para o ‘cuidar’ e para a maternidade. Sua representação era expressa pela fragilidade, pelo imaginário masculino de feminilidade e beleza, presente até os dias atuais. Por estarem entrelaçados, esses aspectos acabaram por reforçar alguns pensamentos e discursos direcionados para a privação, até em forma de lei, da participação das mulheres em algumas modalidades esportivas, sendo o futebol e as lutas os principais”, afirmou Seabra.
O professor também atribuiu à escola o papel de inserir as mulheres na prática esportiva, sendo que elas, por muito tempo, foram excluídas ou afastadas dessas atividades. “Vencer, superar esses aspectos é uma questão cultural e de educação que ainda pode demorar um pouco”, finalizou ele.
Leia Mais:
Futebol feminino e suas barreiras
Porque as conquistas históricas do futebol feminino não saem na mídia
1 Comentário
Entre na discussão e nos diga sua opinião.
Parabens pelo artigo, achei bem interessante e é complicado ver o quanto o brasil é um pais machista e focado só em samba, futebol e novela