Da sala de aula ao cinema: “Que Horas Ela Volta?”
Quem disse que para estudar é necessário ter papel, caneta e livros de mil páginas? “Que Horas Ela Volta?”, filme de Anna Muylaert (de “É Proibido Fumar”), é um exemplo claro de que o cinema pode, sim, ensinar e, de quebra, dar “chacoalhadas” de emoções.
Considerado pela crítica especializada como uma obra de arte fresquinha do cinema brasileiro, a trama conta a história de uma família de classe média de São Paulo, que tem Val (Regina Casé) como sua empregada doméstica, mulher nordestina que trabalha para a família há anos, morando na casa de seus patrões. O filme começa a esquentar a partir do momento em que Jéssica, filha de Val, que ficou no Nordeste enquanto a mãe foi ganhar a vida mais ao sul, decide ir a São Paulo para fazer vestibular.
O longa foi usado como objeto de estudo muito eficiente na discussão das diferenças entre as classes sociais existentes no Brasil, em atividade coordenada pelo professor de História, Edson Joaquim dos Santos. Era previsível que o Cotuca, um colégio com professores interessados em oferecer o máximo de conhecimento a seus alunos, levaria os estudantes para conhecer o filme. A força de vontade dos professores e também dos alunos é impressionante. Em um domingo de manhã, mais de 100 alunos dos terceiros e quartos anos, além de funcionários do colégio, foram ao Cineflix Cinemas, do Galleria Shopping, para uma sessão exclusiva, onde eles puderam assistir ao filme e debater as questões apresentadas no longa.
Muitos alunos saíram do cinema maravilhados com o que assistiram, apontando que o longa seria um “tapa na cara” para o espectador. Para eles, o filme pode levar as pessoas a compreenderem melhor o papel da empregada doméstica na sociedade brasileira. Por outro lado, os alunos pensam também que o longa poderia criar um desentendimento por parte das “patroas” que, muitas vezes, podem interpretar o filme de outra maneira, algo que veio repercutindo muito na mídia brasileira.
O aluno Felipe Thiele, do segundo ano do curso Técnico em Enfermagem, ao ser questionado sobre o assunto, disse que, mesmo dependendo do raciocínio sociopolítico que o espectador irá adotar sobre o filme, ele ainda se põe como pessimista em relação a uma certa conscientização das pessoas. “Acredito que a posição de cada um em relação ao filme varia de acordo com toda a formação do indivíduo, além de como e o porquê de a pessoa ter assistido ao longa”, disse o estudante.
Para um aluno do Cotuca, o contato com filmes é de extrema importância, já que pode ser uma ferramenta muito funcional para conhecer outros horizontes, desmascarando temas sensíveis como a relação patroa e empregada. Isso não deve ser restrito apenas ao filme “Que Horas Ela Volta?”. Muitas outras obras cinematográficas brasileiras como “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, “Central do Brasil” e “O Auto da Compadecida” podem levar os alunos a conhecerem outras culturas e visões sobre assuntos que são discutidos em sala de aula e muitas vezes parecem longe da realidade.
Vale lembrar que o filme “Que Horas Ela Volta?” já não está mais em cartaz nos cinemas de Campinas porém deve chegar as lojas ao final deste mês, além de ser o representante brasileiro na corrida ao Oscar.