Graffiti: arte urbana

Grafite, grafito ou grafíti (do italiano graffiti, plural de graffito). Segundo o dicionário Aurélio é: “desenho, inscrição, assinatura ou afim, feito com tinta, geralmente de spray, feito em muros, paredes e outras superfícies urbanas”.

O grafite chegou ao Brasil no fim da década de 1970, com jovens que saíam na calada da noite e faziam seus protestos visuais no muro contra o regime militar da época. Ligado como parte dos 4 elementos da cultura Hip Hop (MC, DJ, Graffiti e o Break) não era só mais o rap que imitava o Condoreirismo, mas agora visualmente. O estilo artístico se difundiu bastante no país, se diferenciando  do norte-americano e adquirindo uma certa “brasilidade” no movimento, principalmente na Grande São Paulo. Apesar de o spray ser o instrumento mais popular, a obra pode ser feita de diversos materiais: látex, colagens, montagens etc. Basta um muro, a sua ferramenta de trabalho e, claro, uma mensagem.

Pessoas passam pelas exposições à mostra nos muros, antes cinzas, e dizem erroneamente “Olha que pichação legal!”. Pichação e grafite, vandalismo e arte, vilão e herói, muita discussão já foi feita sobre esses dois personagens. A pichação é crime, sendo definida como rabiscos, marcações não autorizadas em propriedades públicas e privadas, com apenas o intuito de marcar o território de uma determinada pessoa ou crew, classificando a atividade como vandalismo. Essa guerra de território foi tão popular que, em 1998 foi sancionado a lei nº 9.605,  proibindo a venda de latas de spray de tintas para menores de 18 anos. Até 2011, grafite era considerado como pichação.

“Art. 65: Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Parágrafo único: Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa.”

Passando a vigorar com a seguinte redação sancionada pela presidente Dilma Rouseff:

“Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.

2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. ”

Essas marcas de tinta vistas nas cidades atraíram Francisco da Fonseca Rodrigues, o professor “Chico” do departamento de processamento de dados (DPD), trazendo o destacado grafiteiro Rogério Pedro. Chico o convidou para o colégio através da parceria com a CDC da Unicamp, entre a Comissão de Ação Cultural da Unicamp e o Cotuca. Outras parcerias já foram feitas por esse órgão, trazendo ao Cotuca a Oficina de Fotografia e a palestra sobre aquarela (por Norberto Stori). Rogério Pedro, além das palestras sobre o seu trabalho, presenteou os alunos com um painel feito no próprio Colégio, assim seu processo de pintura pôde ser observado pelos alunos.

Mural feito no Cotuca por Rogério Pedro

Sobre Rogério Pedro

Rogério Pedro, 40 anos, estudou Artes Visuais na PUC, em Campinas. Destaque no cenário nacional, participou de muitos projetos como o do MaxHaus, pintando fossos de elevadores panorâmicos dos prédios da construtora, e o “Projeto 4km”, localizado na Zona Leste de São Paulo, muro de 4 quilômetros de extensão pintado por vários grafiteiros do país, como promoção a Copa do Mundo da FIFA 2014. Não é difícil encontrar seus traçados pela cidade de Campinas e região.

Segue abaixo a entrevista feita com ele.

Conexão Cotuca: Quando você começou com o grafite?
Rogério Pedro: Comecei em 1992, grafitei até 1993. Depois fiquei um longo período sem grafitar e só fui voltar em 2012.

Projeto Mano Down, na Praça Arautos da Paz

CC: Antes de você voltar com o grafite, você fazia o que?
RP: Sempre trabalhei com desenho, com criação. Fiz quadrinhos, ilustrações, publicidades, editorial… E paralelamente meus trabalhos artísticos autorais.

CC: Como funciona seu processo criativo?
RP: Eu pesquiso bastante, sobre determinados temas.Depois começo montar uma composição em cima de ideias, palavras, assuntos específicos.

CC: Muitas pessoas dizem que seus trabalhos se assemelham muito aos da Tarsila de Amaral, com a parte inferior muito maior em relação com a parte superior do corpo. Quais são suas principais inspirações?
RP: Não tenho uma influência direta da Tarsila. Tem outros artistas que fazem personagens com esse mesmo tipo de caracterização. O que acaba lembrando mesmo a Tarsila, que é a referência mais forte, mais famosa. Tenho influência de vários artistas, estudei Artes Plásticas na PUC, sempre estudei muitos artistas diferentes, desde o Renascimento até os mais contemporâneos. Não tenho uma influência direta, mais acho que várias influências.

CC: Antigamente o grafite foi muito referenciado ao nascimento da cultura Hip Hop aqui no Brasil, depois foi cresceu rapidamente e atingiu outras culturas, gerando um monte de artistas. Como está atualmente o movimento no país?
RP: Está muito forte. Acho que falando no cenário global, o que mais destaca é o Brasil. O Brasil é a região que tem mais artistas, mais variedade. O Brasil, hoje, é a capital do grafite.

CC: Tem alguma dica pra novos artistas, não só no grafite, mas todo tipo de arte, música, artes plásticas, literal…?
RP: Estudar, estudar, estudar e pesquisar muito. Estudo, pesquisa e vontade, tem que ter força de vontade, tem que ter muita dedicação. É trabalhoso ficar 10 dias num trabalho, numa pintura. É cansativo, mas recompensador.

Conheça mais o trabalho do Rogério: rogeriopedro.art.br