Postais: Janelas para outras Campinas

Ao passar pela frente do bandejão (pratinho) você percebeu a tabuleta com a inscrição “Pegue um postal”? Já pegou algum? E sabe qual é a intenção deles?

pegue-um-postalTabuleta de postais no Cotuca

Você já tentou enunciar, contando nos dez dedos das mãos, lugares graciosos para se visitar em Campinas? Essa tarefa só não é menos árdua que a de enumerar dez espaços públicos campineiros que frequentamos. Vivemos na parcela urbana de um município onde, em contraste a outros centros urbanos, grande parte da população não conhece bons lugares para frequentar. Como agir para superar essa baixa estima em relação à cidade e o desconhecimento dos lugares que nos cercam em Campinas?

Uma bela resposta a esse problema tem sido promovida pelo projeto “Janelas que dão para outras Campinas”. As alunas da Unicamp Yasmin Pinheiro (que cursa Arquitetura e Urbanismo desde 2011) e Marília Sucena (que cursa Artes Visuais desde 2009) iniciaram esse projeto — como bolsistas do programa do “Aluno Artista”, do Serviço de Apoio ao Estudante da Unicamp — para divulgar alguns desses lugares especiais da cidade por meio de cartões postais.

postais (2)Hexágono de postais. Foto: Beatriz Lorena

No projeto, elas geram postais com fotografias de pontos da cidade dos quais as pessoas guardam boas memórias, onde se sentem confortáveis ou compartilham bons momentos. Após a elaboração, elas distribuem esses postais gratuitamente para a população da cidade, com o objetivo de levá-las a “quererem conhecer mais a cidade de Campinas; criar um laço afetivo entre os postais e as pessoas que elegeram aqueles locais e conhecer e fotografar mais a cidade de Campinas”.

postais (3)Atrás de cada postal, constam o enderenço e as linhas de ônibus para chegar ao local fotografado

Um mapa afetivo: a escolha dos lugares

A escolha dos locais fotografados foi feita a partir dos dados obtidos no mapa afetivo virtual criado pelas responsáveis como plataforma para que os usuários indiquem seus endereços preferidos em Campinas. O mapa, colaborativo, permitiu que cidadãos campineiros identificassem os pontos mais bonitos ou relaxantes, além de lugares especiais e dos favoritos desses usuários.

postais (4)O mapa colaborativo “mapa afetivo de Campinas” foi a base para a escolha dos lugares. Confira e marque seus lugares favoritos!

 

Após a escolha da imagens e da confecção dos postais, estes últimos ficam à disposição em várias placas pela cidade onde há grande fluxo de pessoas, como a fixada em nosso colégio.

Veja a seguir trechos da entrevista que realizamos com as idealizadoras do projeto:

Conexão Cotuca: Como surgiu a ideia de elaborar um mapa afetivo de Campinas? Poderia explicar o que é um mapa afetivo e quais as relações com o projeto?
Yasmin e Marília: Essa ideia surgiu no início do projeto, quando buscávamos uma metodologia para encontrar os lugares que seriam fotografados. Tentamos sair errantes e isso não deu muito certo, então começamos a investigar outras formas, investigar outros projetos, até que vimos um vídeo sobre um aplicativo que pretendia levar as pessoas a percursos mais agradáveis, e não só mais rápidos. Como parte do projeto é sobre mobilidade e deslocamentos que não sejam simplesmente utilitários, essa ideia nos agradou muito, e decidimos elaborar o mapa afetivo, para então encontrarmos os lugares a serem fotografados. O mapa afetivo aponta os lugares em que as pessoas gostam de estar então resolvemos aplicar ao mapa de Campinas, onde as pessoas elegiam os lugares que davam mais tranquilidade, prazer, paz, recordações pessoais e a partir disso nós nos direcionávamos melhor para fotografar o que as pessoas tinham mais afinidade na cidade e não apenas o que era considerado histórico para se tornar postal.

 

 

CC: O que veio primeiro: vocês queriam fotografias de lugares que as pessoas gostam e então fizeram o mapa afetivo ou fizeram o mapa e então resolveram fotografar os lugares?
Y e M: Nós queríamos fotografar os lugares que as pessoas gostam, pensando que outras pessoas poderiam gostar deles também.  A solução que encontramos para identificar o que elas queriam mais foi o mapa. Sem ele não conseguiríamos filtrar o que seria fotografado com tanta precisão e descobrir novos lugares.

CC: Por que a escolha de postais como forma de divulgar as imagens?
Y e M: Porque o postal é um objeto de afeto, é uma forma física da fotografia de lugares que gostamos, de lugares que gostaríamos de estar, de lugares que amigos nossos gostaram. É uma forma fácil de espalhar a fotografia, ao mesmo tempo em que, no caso de uma cidade com pouco apelo turístico como Campinas, nos causa uma estranheza ver postais de lugares daqui. Era esse sentimento de curiosidade em relação à própria cidade que os postais causam que queríamos encorajar.

 

CC: Existem outros pontos de distribuição dos postais? Quais? Como foram escolhidos os pontos de distribuição?
Y e M: Os pontos de distribuição dos postais previstos em projeto não foram possíveis durante a execução, principalmente porque foi mais difícil conseguir autorização do que imaginávamos, principalmente da EMDEC, para expor nos terminais, que era a grande ideia do projeto e que não foi possível. Por fim, expusemos os postais apenas nos lugares que nos autorizaram ou lugares que não necessitavam de autorização, dentro da própria UNICAMP. Os pontos precisavam ter um fluxo grande de pessoas e fazer parte da cidade.

CC: E como foi a experiência de expor os postais?
Y e M: Foi uma experiência gratificante. As reações foram engraçadas, algumas vezes surpreendentes e logicamente que ouvimos críticas também. Expor os postais era também expor a nós mesmas e nossas ideias sendo avaliadas e levadas. Mas foi o momento de máxima realização do projeto. Muitas pessoas coletaram os postais para enviar para pessoas de outras cidades e até para outros países, o que nos deixou muito felizes.

PostaisCartões expostos no Cotuca. Foto: Yasmin Pinheiro

CC: Quais foram os maiores aprendizados com o projeto?
Y: Antes eu achava Campinas pequena, mas percebi que pequena era a minha ideia sobre a cidade!
M: Eu digo sempre que todos os dias aprendo alguma coisa nova! Isso porque nos relacionamos com pessoas e trocamos muitos conhecimentos, por mais simples que sejam. Com o projeto, eu tive a possibilidade de conhecer pessoas apaixonadas pela fotografia de rua, além de perder o medo de explorar mais os locais de Campinas, saindo um pouco da minha zona de conforto, de lugares que já frequentava.

CC: Quais os próximos passos? O que vislumbram quanto ao projeto?
Y e M: Acreditamos que ainda falta dar uma visibilidade maior a ele, envolvê-lo no espaço público de Campinas e ter o apoio de representantes, tanto da cidade, quanto de museus para isso acontecer.

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Pegue um postal! No Cotuca, os postais são repostos regularmente (mas acabam muito rápido!). Você pode pegar à vontade — mas deixe, é claro, postais para que outros alunos também possam desfrutar do projeto e conhecer melhor Campinas!

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