Quem vê Alan César Ikuo Yamamoto, professor e atual diretor do Cotuca, andar quieto e tranquilo pelo colégio, mal pode esperar pela surpresa explosiva que é sua paixão pela leitura, em especial pela poesia.
Certo dia, seu irmão mais velho, que estava no Ensino Médio, chegou em casa com uma pequena apostila com poemas de Carlos Drummond de Andrade, que ganhara de seu professor. Com grande curiosidade, Alan pegou a apostila e começou a lê-la. Isso foi suficiente para dar início ao amor pela poesia. Não muito tempo depois, ele decorou todos os poemas dessa apostila, que passou a ser seu livro preferido.
Durante seus estudos no Colégio Técnico de Campinas, Alan sempre via apresentações de monólogos, que eram organizados por sua professora de Artes, além das frequentes competições de poesias, em que chegou a ganhar o primeiro lugar. Até recitou poesias em saraus do colégio. Todos esses eventos foram incentivos para que cultivasse seu apreço pelos poemas.
O diretor do Cotuca, professor Alan
O repertório de leitura do diretor é bem amplo, vai de artigos científicos até revistas de pesca, mas com a preferência sempre voltada à poesia, mais especificamente Haikais, poemas de origem japonesa. Ele contou que há pouco tempo comprou um livro de Haikais na feira da Unicamp e até escreve alguns poemas nesse estilo, mas que, apesar de gostar de algumas poesias de autoria própria, acha outras ridículas – como ele mesmo disse –, e que as considera apenas alguns versos, não poemas.
O diretor pensa em participar de algum sarau do Cotuca, agora que poesias estão sendo integradas e incentivadas nas apresentações, mas, antes disso, ele precisa, assim como tantas outras pessoas do colégio, vencer a vergonha de se apresentar em frente de tantos alunos (e olha que isso vem de alguém que já ganhou competições!).
Apesar da paixão, para ele, ler poesia não é algo simples. É preciso prestar muita atenção nas pausas e na entonação, pois é isso que dá sentido para o poema, e cabe ao orador decidir quais interpretações destacar em sua declamação. Alan descobriu isso quando adquiriu uma fita de gravação em que Drummond recita os próprios poemas, percebendo que o jeito que lia era totalmente diferente do autor. Ficou maravilhado com o novo sentido dos poemas ao ouvir outra pessoa – o próprio autor – declamando.
Recitar poemas não é fácil nem para ele nem para nós, por isso conversamos com a professora de artes, Patrícia Cortelazzo, que nos deu algumas dicas:
Conexão Cotuca: Há um jeito certo de ler um poema? Quais instruções podem ser dadas a uma pessoa que quer fazer uma boa declamação de poesia? Patrícia: O jeito certo de ler e as instruções são as mesmas: leia com o coração, deixe-se levar pelo embalo da poesia, sinta o que está lendo; não busque explicações racionais, não tenha vergonha de expor seus sentimentos. Liberte sua alma!
CC: Um poema é composto por versos. Quando você lê um poema, é preciso pausar a cada verso? Patrícia: Normalmente, sim. Há sempre um ritmo que pode ser encontrado e explorado.
CC: Você, como professora de artes, trabalha usando a poesia com seus alunos? Patrícia: Sempre que possível, procuro trazer a poesia de várias maneiras, declamando, interpretando, criando cenas…
CC: Qual a sua experiência com leitura de poesias em sala de aula? Patrícia: Os alunos com mais conhecimento de textos poéticos sempre gostam dessa atividade, porém, tenho observado que a leitura da poesia desperta a sensibilidade, mesmo naqueles que não têm um repertório tão amplo, abrindo espaço para a apreciação de novas formas de expressão.
Se interessou um pouco sobre poesia? O Alan tem algumas dicas de autores e poemas.
Carlos Drummond de Andrade - As Sem-Razões do Amor
As Sem-Razões do Amor
(Carlos Drummond de Andrade) Eu te amo porque te amo, Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Ferreira Gullar - Aprendizado
Aprendizado
(Ferreira Gullar) Do mesmo modo que te abriste à alegria abre-te agora ao sofrimento que é fruto dela e seu avesso ardente.
Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo e te perdeste nela e te achaste nessa perda deixa que a dor se exerça agora sem mentiras nem desculpas e em tua carne vaporize toda ilusão
Que a vida só consome o que a alimenta.
Leminski - Um bom poema leva anos
Um bom poema leva anos
(Paulo Leminski) Um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto.
Vladimir Maiakóvski - Dedução
Dedução
(Vladimir Maiakóvski) Não acabarão com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente.
Vinicius de Moraes - Soneto de separação
Soneto de separação
(Vinicius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.
[…] quem constrói o colégio são trazidas na crônica de Giovanna Batalha e no Painel do Leitor escrito por Maria Luiza Assis e Beatriz Lorena. O primeiro apresenta uma conversa com Seu Zezinho, […]
Prof. Alan César Yamamoto é entrevistado no Painel do Leitor – Biblioteca – Cotuca – Unicampresponder
janeiro 23, 2017 em 10:01 AM
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3 Comentários
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Uma alegria a continuidade do Painel do Leitor. Obrigado, Malu e Bia!
Estou ansioso para rever as poesias do Alan no nosso sarau…
[…] quem constrói o colégio são trazidas na crônica de Giovanna Batalha e no Painel do Leitor escrito por Maria Luiza Assis e Beatriz Lorena. O primeiro apresenta uma conversa com Seu Zezinho, […]
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