MIS: o paraíso audiovisual de Campinas

A cidade de Campinas possui alguns locais destinados à cultura de maneira geral e isso não é uma grande novidade. Locais como o SESC Campinas e diversos teatros, como o Teatro Brasil Kirin e o Teatro Castro Mendes, são boas opções para frequentar e conhecer atividades musicais, audiovisuais ou teatrais. Entretanto, além de serem muitas vezes desvalorizados, os ingressos para desfrutar desses lugares costumam ser caros, o que pode estar longe da realidade de muitos moradores. Talvez tenha sido isso que manteve o Museu da Imagem e do Som de Campinas vivo por tantos anos e oferecendo atividades culturais de maneira gratuita e de alto nível, consolidando-se cada dia mais como o principal local dedicado à memória audiovisual da cidade.

Explicar como o MIS se autoafirmou como um local tão rico em cultura é uma tarefa que exige uma pequena volta ao tempo. Sua fundação aconteceu em 1975, pelo cineasta Henrique de Oliveira Júnior e também por Dayz Peixoto Fonseca. No entanto, como não havia uma sede própria para o MIS, até então, as atividades acabaram sendo sediadas no porão do então Palácio Municipal. Em 1976, o museu conseguiu seu próprio lugar no mezanino do Centro de Convivência Cultural de Campinas. Entretanto, foi só em 2004 que ganhou sua própria sede no Palácio dos Azulejos, local onde mantém até hoje suas atividades. Atualmente, inicia uma nova fase de planejamento em relação aos acervos, desenvolvimentos de programas e projetos de fortalecimento de comunicação com o público. Infelizmente, a Prefeitura de Campinas não valoriza muito o local e já tentou diversas vezes retirar o MIS de lá para transformar o espaço em algo que dê benefício financeiro para a cidade. Mas o objetivo não foi alcançado e o museu continua fortalecido no local.

Os objetivos do museu, por sua vez, sempre foram muito bem posicionados: preservar e reunir a memória audiovisual de Campinas e região. Além disso, o MIS Campinas já nasceu com a vocação de não ser um espaço elitista, posicionando-se como um local que iria acolher qualquer tipo de pessoa que quisesse discutir a história, assistir filmes, ouvir música e por aí vai. Por isso, ele é tão importante. E não se pode perder essa última trincheira de cultura independente e sem segregação presente na memória campineira.

Em relação às atividades, o MIS possui um leque de opções para os frequentadores. Direcionado ao público estudantil, o que mais agrada e reúne as pessoas são as exibições de filmes que acontecem de domingo a domingo. Além disso, o estudante pode ir ao museu para conhecer o vasto acervo musical e fotográfico do espaço, além de frequentar outras atividades culturais como, por exemplo, as peças de teatro de estilo alternativo, inclusive feitas por estudantes.

Orestes Augusto Toledo, professor de história na rede estadual de ensino e historiador do MIS, conta que considera o lugar avançado para sua época. “Ele é resultado da ciência e da tecnologia que permitiram que o homem registrasse os fatos não só no papel ou em outros artefatos, mas também fotografando, filmando e gravando. As invenções dos aparelhos que reproduzem a imagem e o som permitiram ampliar a quantidade de documento. E as documentações não eram produzidas somente pela elite, mas as camadas populares puderam se autodocumentar e fazer registros”. Ele ainda complementa que o museu tem a função de recolher, preservar, produzir, catalogar e apresentar a documentação histórica, sem critério de exclusão. Assim, as pessoas podem comparar e discutir os documentos históricos com diferentes pontos de vista.

Ao ser questionado sobre como o MIS pode levar conhecimento cultural para os frequentadores, Orestes afirma que quem vai ao museu alfabetiza-se no aspecto audiovisual e consegue aprender a linguagem. “Esse domínio da linguagem é uma descoberta de si mesmo e um novo olhar sobre o mundo e as pessoas, ele gera ideias que são necessárias para projetos de mudança. Frequentar o MIS gera um conhecimento que a pessoa assimila ao seu modo, sem nenhuma cobrança. Aprende se divertindo e conhecendo pessoas”, diz o professor.

Quando pensamos no cenário cinematográfico mundial, ainda existem muitos problemas sobre a distribuição de filmes. Em contrapartida, o MIS não segue essa distribuição precária e funciona de maneira igualitária, exibindo diversos tipos de produções. Orestes conta que esses problemas do mercado infelizmente atrapalham na absorção de conhecimento do público que frequenta os cinemas. “Os filmes que permitem diversão com conhecimento não ocupam nem a televisão, nem a tela de cinema dos shoppings. Eles existem, mas são censurados pelo mercado. No mundo onde existe a ditadura midiática e a imagem o domina, assistindo aos filmes no MIS, se descobre a imagem que liberta”, afirma o historiador.

É imprescindível a presença do MIS na formação cultural e social da população campineira. Nesse espaço, as pessoas podem perceber que são humanas porque se humanizam e passam a tratar os outros como humanos mediados pela arte, memória, história. Por isso, o professor nos mostra o quanto o lugar ainda precisa ser reconhecido, assim como o poder de mudança social da arte que ele abriga. Cabe à administração e população de Campinas valorizarem um lugar tão importante para a população.

“A arte é indispensável para a vida, ela é o que nos faz humano. O homem é linguagem, narrativa. Tudo que vem de fora fica na sua mente e coração, e você tem que transformar isso numa imagem simbólica, para buscar sair da solidão e dialogar com o mundo. Isso é arte. A arte nos humaniza. Ela é fruto de uma necessidade de se expressar, comunicar e de se relacionar com o outro.”
– Orestes Augusto Toledo

Local: Museu de Imagem e Som (MIS) de Campinas
Endereço: Rua Regente Feijó, 859 – Centro, Campinas – SP, 13013-051
Telefone: (19) 3733-8800
Entrada gratuita
http://www.miscampinas.com.br

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Editorial – 3ª edição – Conexão Cotucaresponder
abril 16, 2016 em 12:04 AM

[…] para os integrantes do Conexão Cotuca. Nesse sentido, Douglas Cardoso e Gabriel Collado discutem o trote; Júlio Moreira fala sobre os estágios; André Piau e Giovanna Batalha […]

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