Zezinho

Conversei esses dias com José Manuel da Silva, conhecido por onde passa, assim como no Cotuca, como Zezinho. Entendi sua árdua jornada de trabalho e sua dedicação impressionante ao estar sempre disposto às atividades, de um lado para o outro, pelos corredores do Colégio.

A história de Zezinho começa em Rondonópolis, no Mato Grosso. Nasceu e cresceu lá. Trabalhou muito: na roça, conduzindo tratores, abrindo estradas e realizando outros serviços rurais. Quando tinha por volta dos 18 anos de idade, serviu o exército, e em 1975 mudou-se para Campinas. Na Unicamp, começou trabalhando como encarregado geral, responsável pela rede elétrica primária, secundária e hidráulica. Atualmente é supervisor geral e coordena os serviços do Cotuca. “Se eu contar os tempos de firma, eu tenho por volta de 42 anos só registrado. Na Unicamp são 33 anos”. E o longo tempo de serviço não faz Zezinho desanimar. Ele conta que pretende continuar trabalhando e que se sente confortável com a direção do Cotuca e com os alunos.

Em tantos anos de trabalho, Zezinho passou por diversas situações difíceis, mas mostrou ter um grande equílibrio, sabendo controlar os serviços e os momentos de descanso, para manter-se saudável e estar até hoje ativo no Colégio. Ele conta que, nas redondezas do prédio antigo do Cotuca, realizava serviços particulares, mas que estavam consumindo suas energias: “trabalhava naquela região toda, consertando portão elétrico, chuveiro, trocando reator, fazendo reparo de hidráulica. Eu mexo com muita coisa elétrica, então eles me chamavam meia noite, uma hora da madrugada. Eu não quis mais isso. Eu não podia reclamar, mas a vida da gente vai acabando, todo mundo tem que ter um tempo pra si próprio, pra futuramente não vir a sofrer”.

A vida de Zezinho não é só trabalho. Ele também adora estar com a família, duas filhas casadas e um filho que brevemente lhe dará um neto. Mas nos conta que, fora do Colégio passou por uma grande desestabilização durante 5 anos, quando sua esposa foi diagnosticada com câncer, e não resistiu ao tratamento, vindo a falecer recentemente. “Graças a Deus estou levando a vida, mas 100% a gente não está.”.  A direção do Colégio lhe deu grande liberdade nessa época para que pudesse acompanhar sua esposa. Ele conta que saía vários dias para levá-la fazer tratamento na PUC, e que é muito grato por essa abertura que lhe foi dada.

Zezinho enfrenta essa situação de cabeça erguida, disposto a aprender com ela. Ele conta que passou por muitas experiências, e sempre as encarou com coragem. No início da carreira de trabalho, conta que temia a parte elétrica, mas que aprendeu ao longo do tempo, e hoje tem muito conhecimento, o qual foi adquirido com a “escola da vida”. “Eu aprendi a ser profissional na vida, sozinho. Depois fui fazer Senai, esses cursos. Mas sozinho na vida você aprende, nada é difícil. Desde quando você fala ‘Eu quero fazer’, você consegue fazer qualquer coisa”. Mas explicou que, atualmente, concluir os estudos e cursos traz maiores oportunidades na vida.  

“Hoje em dia é preciso ter um curso, ser formado. Eu fiz SENAI, mas não concluí tudo. Caí em dificuldade, e falei ‘Ah, não precisa’, sendo que eu podia ter esse canudo até hoje guardado. Já pensou? E depois que eu entrei na Unicamp, nem precisei mais daquilo, nem acho mais se procurar.”

Percebi que Zezinho é parte essencial do Colégio. Conheceu e marcou diversas gerações de alunos, professores, funcionários e direções. Ele conta que já tocou no sarau com alunos, e que até hoje encontra umas alunas que se tornaram professoras, feliz em saber que elas estão bem. Mas a história que mais me marcou foi a de uma aluna que ele encontrou no Mato Grosso, uma coincidência realmente grande.

“Você vai dar risada: encontrei uma aluna que vive pertinho do meu irmão, em Rondonópolis. Tava andando na fazenda e vi umas pessoas correndo atrás de mim. Uma mulher desceu do cavalo, falando que me conhecia e era ex-aluna do Cotuca. Ela tem uma farmácia, que é praticamente dela, o pai não trabalha mais. Olha que coincidência. Meu irmão compra tudo na farmácia dela, e jamais ia saber. Fui lá, apresentei pros meus irmãos, mas eles já conheciam. Olha como esse mundo é, ela é formada no Cotuca, e hoje tá super bem na farmácia.”.

Ele finalizou nosso papo agradecendo pela conversa, e dizendo que o trabalho dentro da escola é recíproco, e que é importante a colaboração de todos os alunos. Diz também que pretende continuar trabalhando no Colégio enquanto conseguir; e eu realmente espero que ele continue, para que muitas pessoas tenham o privilégio de conhecê-lo.

“A convivência no Cotuca faz parte de nós, as pessoas viram uma família. Ninguém é 100%, mas eu tento ser pelo menos 99% e ajudar todo mundo. É o privilégio que a gente tem de apoiar vocês e o Colégio, não só agora, como futuramente. Agradeço quando vocês avisam de vazamento, problemas que o prédio tem… Eu posso realizar meu trabalho e juntos a gente ajuda a cuidar do planeta”.

 

Ilustração: Franciele Oliveira

 

4 Comentários

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Editorial – 3ª edição – Conexão Cotucaresponder
abril 16, 2016 em 12:04 AM

[…] histórias de quem constrói o colégio são trazidas na crônica de Giovanna Batalha e no Painel do Leitor escrito por Maria Luiza Assis e Beatriz Lorena. O […]

Paulo Pacittiresponder
abril 18, 2016 em 10:04 PM

Verdadeiro herói, com tantas dificuldades, sempre disposto a ajudar, colocando-se em segundo lugar e as pessoas em primeiro. Se tivesse um “Hall of Fame” do Cotuca não há dúvida que teria nome, busto, foto, memorial, homenagem ao Zezinho hahahahahaha

André Pastiresponder
abril 18, 2016 em 11:04 PM

Grande Zezinho! Espero que ele goste dessa bonita homenagem 🙂
Essa seção já criou uma identidade, Giovanna, parabéns! Textos bonitos e sensíveis, proposta excelente!

Celso Robertoresponder
abril 19, 2016 em 03:04 PM

Matérias mto interessantes, não somente aos alunos, mas a todos que gostam de interagir e aprender sempre. Bonita homenagem ao Zezinho, reportagem mto bem montada. Parabéns à Equipe!!

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