Alunos do Cotuca paralisam para discutir a PEC 241/55 e a MP do Ensino Médio
No último dia 11 de novembro (sexta-feira), alunos do Cotuca realizaram uma paralisação com o objetivo de debater duas medidas do atual governo federal: a Proposta de Emenda Constitucional 55 (antiga PEC 241, apelidada pelo governo como “PEC do teto de gastos” e pelos críticos a ela como “PEC do fim do mundo”) e sobre a Medida Provisória 746, que apresenta uma reforma para o Ensino Médio.
No dia anterior, os alunos haviam organizado uma reunião, convocada por meio de um evento no Facebook, que convidava os estudantes interessados a tomar alguma atitude em relação a essas medidas.
“O que nos motivou foi todo esse movimento secundarista em Campinas, ao qual o Cotuca estava alheio; essa necessidade de trazer esse tema pro Cotuca e discutir sobre ele. O estopim foi saber que haveria um ato na sexta-feira, dia da Paralisação Nacional Contra a PEC 55, pelos alunos da ETECAP. Isso fez a gente cair na real de que o Cotuca não estava fazendo nada, então criamos o evento”, explica Pedro Monteiro, do 1º ano de Enfermagem, um dos organizadores do movimento.
Primeiras ações
No dia anterior ao da paralisação, 10 de novembro, cerca de 70 alunos se reuniram próximo ao ginásio do Cotuca, durante o período do almoço, para debater sobre a PEC 55 e sobre a MP 746. A reunião durou cerca de uma hora e os alunos que estavam organizando o movimento se propuseram a explicar de forma breve o que são essas duas medidas aos presentes e propuseram uma paralisação no dia seguinte para debater o assunto e também com o objetivo de apoiar as outras paralisações e ocupações de escolas que estão acontecendo pelo país.
Surgiram algumas divergências sobre os horários da mobilização e se iria haver paralisação das aulas, ou não. Para tomar uma decisão coletiva, após um breve debate, foi realizada uma votação com os alunos presentes, os quais, em maioria, concordaram com a paralisação no dia seguinte. “ A paralisação foi importante por mostrar que o debate sobre o assunto era de fato relevante, e que era uma discussão sobre temas que podem impactar a todos os alunos e a escola. Além disso, por tomar aulas centrais (no ponto de vista dos horários), o debate contou com muito mais alunos, que estavam presentes, com certeza, no colégio em tais horários. Sem um número expressivo de estudantes, essa discussão não atingiria seu objetivo, que era o de conscientizá-los sobre mudanças capazes de influenciar diretamente seu futuro acadêmico”, diz Júlio Moreira, aluno do 3º Informática, que participou do debate.
Essa proposta de paralisação foi levada às turmas do colégio no período da tarde, para obter a opinião dos estudantes e a maior parte dos que votaram optou por paralisar na sexta-feira, na primeira aula depois do intervalo da manhã. No mesmo dia, os alunos se mobilizaram novamente no horário do jantar, e, conversando entre si, decidiram também organizar um debate a ser iniciado no intervalo da noite do dia seguinte.
A paralisação
No dia 11 , mais de cento e cinquenta alunos se mobilizaram durante a aula, no período da manhã. Eles debateram as medidas e decidiram paralisar também na primeira aula da tarde para continuar a discussão. Essa segunda mobilização iniciou-se às 12h40. Os alunos presentes construíram um debate aprofundado sobre a PEC 241 e depois sobre a medida provisória.

transmitidos ao vivo:
“Eu achei o debate muito saudável, pois, além de expor vários lados dos assuntos discutidos, não sofreu nenhum tipo de conflito nem falta de organização. E é importante ressaltar que ele abriu espaço para que a comunidade discente do Cotuca tivesse a possibilidade de expor sua opinião política”, afirma Júlio Moreira.
Outro ponto citado no debate foi a Proposta de Emenda Constitucional 53, que, apesar de não ter sido muito divulgada na sociedade, tramita no senado e propõe a limitação do direito de greve para o setor da Educação, o que inclui as ocupações escolares. No estado de São Paulo, após as ocupações realizadas no ano passado, o então Secretário de Justiça Alexandre de Moraes, hoje Ministro da Justiça e Cidadania no governo Temer, conseguiu um parecer que permite a desocupação sem autorização judicial.
“Eu espero que o evento tenha bastante visibilidade, porque o Cotuca é uma escola de bastante nome, que todo mundo tem como exemplo. Então, se a gente puder, de alguma forma, ajudar essas outras escolas e dar visibilidade pra elas, mesmo que não ocupando, mas dando apoio, os movimentos vão ser vistos de forma mais nobre pela sociedade”, afirma Maria Luiza Parreira, aluna do 1º Enfermagem.
Esse primeiro debate foi até o fim da primeira aula da tarde, às 14h40. Foram levantadas possíveis medidas que o corpo discente poderia tomar para expressar o repúdio dos alunos às medidas, caso uma votação realizada nas salas expressasse esse resultado.
À noite, o debate aconteceu no mesmo dia às 21h, horário do intervalo, e se estendeu por mais de uma hora, contando com aproximadamente 40 alunos. Ele ocorreu de forma semelhante ao da tarde, levantando pontos sobre a PEC 241/55 e sobre a MP 746.
Os estudantes fizeram um profundo debate levantando os pontos positivos e negativos sobre a PEC e houve um breve debate sobre a MP 746. “Durante a maior parte do nosso tempo discutimos sobre a PEC55, e fizemos um breve debate sobre a MP 746, que propõe a reforma do ensino médio. Gostaríamos de ter tido mais tempo para discutir, mas durante a discussão foram lançados alguns tópicos que exigiram mais reflexão e infelizmente foi necessário adiar esses assuntos para futuras discussões já que o tempo estava curto”, afirma Renan Ambiel, aluno do 3º ano de Mecatrônica.
Além disso, os alunos debateram sobre o momento político atual, refletiram sobre a imparcialidade que as medidas políticas possuem e como afetam grupos sociais e privilegiam outros.
Balanço
Para Pedro Luiz Adrião, aluno do 1º ano de Alimentos, o debate contribui para que o Cotuca não seja somente um ambiente que ensina conteúdos obrigatórios, mas também experiências de vida. Além disso, afirma que vê o debate como um meio de trazer o tema àqueles que não tinham conhecimento do que estava sendo proposto: “o que acontece é que o aluno que não está muito antenado no debate e não sabe o que está acontecendo lá fora, ao ver que a sala dele está investindo tempo em outra coisa, tem um interesse de participar e parar pra pensar em algo que ele nunca iria pensar. É isso que fica, uma reflexão, mesmo que seja algo curto, fica uma reflexão: ‘por que minha sala está gastando tempo nisso?’ ”
Além disso, para Samira Lidia, aluna do 3º ano de Mecatrônica, o debate possibilita que o Cotuca se torne mais político e dá força às opiniões e argumentos dos estudantes: “ dessa forma alunos que estão boiando no assunto conseguem se informar, conseguem trocar ideias, opiniões e informações, e de uma certa forma acabam por ser unir e criar força e voz no Cotuca, que é uma escola onde pouco se vê isso”
Renan Ambiel, aluno de 3º Mecatrônica, complementa com sua opinião sobre o debate: “Sentimos que é possível mobilizar os alunos do noturno para discutirmos política e que os alunos estão dispostos a argumentar mesmo tendo opiniões diferentes. De modo geral foi uma experiência muito enriquecedora para nós alunos: após o debate o assunto foi prolongado em cada van, e em cada grupo do whatsapp. Durante o sábado de manhã vi alunos conversando sobre o assunto e até argumentando, como se o debate tivesse dado segmento ali mesmo. Acredito que essa seja a parte mais importante, que as pessoas debatam entre si, estudem e criem uma consciência política, porque no fim a educação política já é uma forma de revolução”.
Próximas ações
Desde a paralisação, está sendo realizado um levantamento da opinião dos alunos pelas redes sociais, tratando da PEC 55, da MP 746 e das possíveis ações dos estudantes em relação às propostas. Esse resultado será divulgado em breve. Também haverá novas reuniões para organizar as próximas ações, caso a votação mostre um interesse coletivo em continuar com debates e mobilizações.