Mente Aberta: a cultura de diálogo no Cotuca

Reunião do Mente Aberta em 2013 sobre redução da maioridade penal.Reunião do Mente Aberta em 2013 sobre redução da maioridade penal.

No segundo semestre de 2016, o Cotuca presenciou a volta do Mente Aberta, um grupo de debates sobre os mais variados assuntos, do qual qualquer aluno pode participar. O que muitos podem não saber é que o grupo já existia há alguns anos, desde 2011, mas suas atividades acabaram junto com a formatura de seus organizadores. As discussões foram retomadas, neste ano, por Luisa Vincoletto, Pedro Luiz (alunos do 1º ano de Alimentos) e Pedro Monteiro (aluno do 1º ano de Enfermagem).

Nascimento

“O Mente Aberta surgiu, basicamente, junto com a fundação do Grêmio Nova Primavera, como um projeto semanal (às quintas-feiras, na hora do almoço). A ideia foi colocada em prática por um grupo de alunos que se revezavam, semana a semana, para mediar os debates”, afirma Giovanna Melanie, ex-aluna de Enfermagem e uma das pioneiras no projeto.

Segundo ela, as pautas sempre foram bem-vindas e não causavam problemas. “Só tivemos problemas algumas vezes com a direção, com destaque para o tema da Legalização da Maconha, que foi “proibido” e, por conta disso, fomos discutir fora da escola (em uma praça perto do colégio). Isso causou bastante problema. Até hoje não sei por que havia tanta polemização com uma discussão simples dessa”, afirmou.

Para Giovanna, o principal objetivo do Mente Aberta era proporcionar aos alunos uma hora de debate para que pudessem ser discutidos assuntos diferentes daqueles propostos em sala. No final de cada encontro, eram propostos os temas para o encontro seguinte e o nome de quem o mediaria. “Eu lembro que o pessoal realmente estudava o tema antes de debater, o que levou a uma cultura de diálogo muito grande naquele momento. Além disso, muita gente acabou se conhecendo, amizades foram feitas, enfim, foi uma politização necessária”, completou ela.

Muitas vezes, no Mente Aberta, foram convidados participantes de movimentos e especialistas no assunto discutido. “Alguém do grêmio se informava sobre o tema e levava o levantamento à discussão. Muitas vezes esse modelo não era suficiente, porque nem sempre era possível alguém coletar informações suficientes. Então, sempre que possível levávamos alguém de fora do colégio”, diz Christian Queiroz, ex-aluno e integrante do antigo Mente Aberta.

Imagens de divulgação de alguns encontros do Mente Aberta entre 2012 e 2013.Imagens de divulgação de alguns encontros do Mente Aberta entre 2012 e 2013.

Efeitos do Mente Aberta

O Mente Aberta tem o objetivo de discutir ou expor temas em destaque na nossa sociedade. Para Christian, o intuito dos debates não é apenas discutir sobre o assunto, mas poder pensar numa ação a ser tomada. “Um grande feito do grêmio na época foi estender o horário do bandejão. Era só das 11h30 às 13h. Como conseguimos estender para das 11h00 às 13h30? Não foi com um MA [Mente Aberta], sentando e debatendo como fazer, chamando a direção ou sei lá. Alguém teve a genial ideia de fazer uma fila, ao meio-dia, com todos os estudantes, um atrás do outro (igual o pessoal do SOE sempre mandava ficar, um atrás do do outro). Pronto, todo mundo fez isso meio-dia. A fila foi do bandejão (fundos do terreno) até depois da sala da Direção, [que ficava na entrada do prédio antigo do Cotuca]! Isso dá uns 400 estudantes. Foi um dia mágico”, afirma ele.  

“Eu sei que o tema é o MA, mas sinto falta de fazer isso, meio que combinar as duas coisas, debater sempre e chamar o pessoal à ação, a uma manifestação, a cobrar as coisas, a lutar, enfim” – Christian Queiroz.

A Nova Geração

A retomada do Mente Aberta foi motivada pela vontade de discutir temas polêmicos. Para o aluno Pedro Monteiro, a escola não levanta essas questões. “Tem coisas muito importantes, por exemplo, a questão do aborto, que está em alta,  que a escola não discutiu e não vai discutir. Acho que eles não consideram o espaço adequado para isso. Nós temos poucas aulas de História, Geografia, Filosofia, o que não é suficiente”, afirma o aluno de Enfermagem.

Os encontros do novo Mente Aberta têm cerca de 30 a 40 pessoas e, para Pedro, têm sido muito produtivos. Os alunos têm sofrido algumas críticas, relacionadas ao fato de que a maioria dos participantes costumam concordar entre si, o que não leva a um real debate. Esse problema persiste desde a antiga gestão do grupo: “às vezes, não se consolidava nem um debate. Veja bem, se ninguém contra-argumenta, não tem “debate”. Então, virava mais uma exposição de ideias e de pesquisa”, afirma Christian.

“Esperamos que seja possível trazer gente de fora para os debates, poder aumentar a divulgação das reuniões, e que pessoas com opiniões divergentes participem também ” – expectativas de Pedro Monteiro para o Mente Aberta.

Segundo Pedro, alguns colegas que têm opiniões divergentes acabam tendo medo da exposição por ter ideias diferentes da maioria, mas o aluno reforça que seria ótimo que eles participassem, para proporcionar um debate com maior qualidade. E aponta que um dos principais problemas é que as reuniões para os alunos do período noturno não têm funcionado, pois poucos alunos conseguem participar. “Não fazemos Mente Aberta no noturno desde outubro. Geralmente só aparecem uns cinco alunos do diurno, nós que estamos organizando e uns três do noturno. São poucas pessoas para se formar um bom debate”, afirma Pedro, que espera  que o grupo encontre outras formas de se organizar nesse período. “Talvez a gente faça algumas reuniões no sábado, para ver se funciona.”

Pedro cogita que as reuniões aos sábados podem funcionar, pois uma das principais dificuldades para a participação dos estudantes do noturno é o conflito de horários. Muitos alunos só chegam no colégio às 19h, início da primeira aula, pois trabalham durante o dia. Outros, que conseguem chegar antes, têm que aproveitar o tempo para jantar, o que os impede de participar. Logo, o sábado seria um dia mais tranquilo para que eles pudessem participar.

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