A volta do Grêmio no Cotuca
Para entender melhor para que serve um grêmio, como houve o surgimento do movimento estudantil e como ele está se organizando no Cotuca, fizemos um breve tutorial para você!

A UNE e o movimento estudantil
A história dos grêmios estudantis começa no século XIII, na Europa, juntamente com o surgimento de grandes Universidades. Mas, com a pequena quantidade de alunos nas organizações, ele só começam a ser melhor estruturados no século XX, quando há o desenvolvimento das instituições de ensino. A partir desse momento, o Movimento Estudantil teve maior importância, protagonizando eventos políticos e culturais ao redor do mundo.
No Brasil, o Movimento Estudantil se tornou uma das mais importantes organizações sociais, representado principalmente pela União Nacional dos Estudantes (UNE), criada em 1937 por um decreto governamental do presidente Getúlio Vargas. A primeira atividade de grande repercussão da UNE foi a participação na campanha “o petróleo é nosso”, que defendia que as jazidas de petróleo encontradas no Brasil não passassem para mãos estrangeiras. Durante o governo de João Goulart (1961-1964), a UNE fez parte da defesa das reformas de base e, juntamente com o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e outros sindicatos, construiu a Frente de Mobilização Popular (FMP), fortalecendo cada vez mais a sua relevância na sociedade.
Durante o período do golpe militar, que durou de 1964 até 1985, a União foi uma das entidades mais perseguidas pela ditadura, criando-se leis para que fosse desarticulada, como a Lei Suplicy (proposta pelo então Ministro Flávio Suplicy), que previa a substituição da UNE por diretórios nacionais, estaduais e centros acadêmicos, proibindo as atividades políticas nas organizações estudantis. Em 1968, aconteceu um dos maiores protestos organizados pela União, que levou à morte, prisão e exílio da maioria de seus integrantes e, consequentemente, ao fechamento da entidade até 1979.
A volta mais expressiva da UNE foi marcada pelos protestos dos “caras-pintadas” que acabaram com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
O Grêmio Estudantil nas escolas
A atuação do grêmio estudantil é muito importante na vida dos alunos das escolas em geral, visto que há uma necessidade de dar voz ao corpo discente, que muitas vezes não é ouvido pela equipe gestora.
Essa falta de diálogo entre alunos e direção acaba trazendo problemas para a comunidade escolar. Além disso, o aluno muitas vezes se sente desmotivado por ver que não está sendo ouvido e que não haverá as mudanças necessárias para um melhor aproveitamento dos seus estudos.
O grêmio tem como uma das funções ser essa voz dos alunos perante a gestão do colégio. Letícia Siqueira das Chagas, aluna da ETECAP, conta um pouco da relação entre o grêmio da escola técnica com a equipe gestora: “a relação com a direção da escola é bem complicada, mas não sei se poderia ser muito diferente. Os interesses de alunos e equipe gestora são diferentes. Por isso, é necessário ter diálogo e os alunos não devem ficar desesperançosos nos primeiros conflitos, porque conflitos vão existir sempre.”
“Ao formar uma chapa, existem muitos ideais que queremos cumprir e propostas que se quer realizar, mas nem todas essas propostas podem se realizar, e isso é uma das primeiras coisas que quem quer mesmo participar deve ficar ciente.”
Fernanda Froes, aluna da ETECAP e membro da chapa Ágora, gestora do grêmio em 2016
A participação de todo o corpo discente nas conversas e debates organizados pelo grêmio é muito importante e a gestão do grêmio precisa se propor a aproximar os alunos ao mesmo, principalmente nas escolas em que essa forma de representação é algo novo ou se perdeu com o tempo, como no Cotuca.
“O grêmio é algo por vezes bem criticado dentro das escola, mas na ETECAP tem uma atuação forte, então as pessoas sabem da importância.”
Letícia Siqueira das Chagas, aluna da ETECAP e membra da chapa AtivaMente, gestora do grêmio em 2017
Apesar de parecer distante, a vida política dentro das escolas pode passar por diversos problemas que, aparentemente, só acontecem no cenário político nacional, como golpes e trapaças a falta de grupos representativos.
“Esse ano [2016] só teve uma chapa que realmente concorreu, fazendo campanha real e tal (que foi a chapa que ganhou), mas tiveram duas outras que se candidataram também, meio que pra fazer com que não tivesse uma chapa concorrente.”
Letícia Siqueira das Chagas, aluna da ETECAP
A necessidade da discussão da pluralidade de ideias se faz presente na vida do aluno, e isso começa já na formação das chapas. A aluna Milena Beltrão, da Etec Bento Quirino (Bentão) falou um pouco da sua experiência na formação da sua chapa que atuou no colégio em 2014: “a ideia surgiu de um garoto, chamado Lucas Araújo, que era o presidente da minha chapa, e eu era a vice-presidente. Ele conversou comigo e fomos conversando com outras pessoas e chamando-as. Não foi nada como ‘fazendo entrevista’, ou algo do tipo. Foi mais conversa, saber o interesse de cada um e montar a chapa”.

A volta do Grêmio no Cotuca
No ano de 2016, ocorreram eventos contra a homofobia e o racismo no colégio que deixaram evidente a importância de um grêmio estudantil, para que houvesse uma melhor representação do corpo discente perante a Direção/SOE. Criou-se a comissão de organização do grêmio composta por alunos da maioria dos cursos técnicos, que tratou de redigir, discutir e votar um novo estatuto, assim como seus devidos documentos, para que no ano de 2017 houvesse a eleição de uma chapa estudantil.
Para que ocorresse a votação do estatuto, foram organizadas reuniões com os alunos do colégio no diurno e no noturno, no sentido de ajudá-los a compreender melhor o documento e para ouvir sugestões e dúvidas. Durante as reuniões, houve várias propostas de mudança que foram ouvidas e passadas aos alunos. Quem concordasse com o documento original votava “sim” e quem concordasse com as mudanças que estavam sendo passadas votava “não”. O resultado foi contabilizado por maioria simples e o estatuto foi aprovado com 72% dos votos, com um total de 384 alunos participantes.

De acordo com o estatuto, em todos os anos ocorrerão eleições para que novas chapas sejam escolhidas. Elas serão compostas por 9 alunos, que devem estar devidamente matriculados e possuir pelo menos 1 ano faltando para a conclusão do curso técnico e/ou médio. Esses alunos ocuparão os seguintes cargos: Diretor Administrativo, Diretor Fiscal, Diretor Cultural – e seus devidos Vice-diretores -, Coordenador Social e de Comunicação, Coordenador Cultural e Coordenador de Esportes.
As eleições são regulamentadas pelo documento de Eleições do Grêmio, pelo qual se pode entender melhor todo o processo.
Você também pode oficializar a candidatura de uma chapa através do documento de inscrição, devidamente preenchido, que será entregue a um membro da Comissão Eleitoral dentro no prazo que será definido nos primeiros meses de aula. Segundo o Regulamento e o Estatuto, qualquer irregularidade apresentada pela chapa acarretará na desclassificação da mesma.
Então, junte seus amigos, debatam sobre a necessidade do grêmio na vida dos alunos e participem deste momento histórico do Cotuca, seja montando uma chapa, seja votando conscientemente na chapa que melhor lhe representa.
Allan Clayton
Giulia de Oliveira
Helena Truzzi